Era bonito

Era bonito. Vocês escutavam o que eu falava sempre com muita atenção. Ignoravam o meu mal humor constante ou fingiam não se importar só para não brigarem comigo. Vocês me apoiavam quando eu tomava uma boa decisão, e me impediam de fazer algo quando aparentava ser uma burrada enorme. Não precisavam me entender, concordarem ou acreditarem em mim. Vocês me apoiavam porque diziam que me queriam feliz. Sempre tinha-mos um programa legal pra fazer juntos. Éramos todos unidos ao contrário de hoje em dia. Era bonito a nossa amizade, o jeito que um cuidava do outro, e ajudava o outro, hoje isso se remete a doces lembranças. Mas ainda é bonito lembrar, de como éramos grudados e amigos, uma amizade verdadeira, as pessoas da cidade diziam que a nossa turma era a toa, e questionavam os nossos programas e aventuras. Era bonito esfregar na cara delas como éramos felizes. Era bonito. E era amizade, cumplicidade, sinceridade, companheirismo, olho no olho, mão na mão. Era um jeito de se importar sem obrigação. E ver a turma se importar comigo sem cobranças. Era bonito. Disso nunca tive nem dúvida. Agora, enquanto vocês arrumam suas coisas e não me dói, eu vejo todas as esquinas do nosso caminho. A gente se desviou antes mesmo de se encontrar. E, no meio da estrada, quem roubou meu coração não foram vocês. E o coração de vocês também nunca foi meu. Mas era bonito. De verdade, sabe? Por mais que ninguém nunca tenha entendido. Eram dessas pessoas que entram na vida da gente, trazem muitas alegrias, criam histórias, conquistam o coração e depois, por besteira, tolice, se afastam, e o vazio logo preenche o peito. Tinham outros caminhos para percorrer, e eu também fui para outro lado. Uma hora ou outra, isso ainda iria acontecer, mas sempre vai ficar faltando alguma coisa, vocês. Um frio na barriga, coração acelerado. Sempre existiria aquela voz na consciência: você sabe, não eram eles. Não era você. Não fui eu também.

Porque era bonito, mas o bonito também se torna feio um dia.